domingo, 13 de setembro de 2009

obscura claridade de Darwich


"A origem da poesia é sem dúvida uma só: a identidade do homem, desde o passado do seu exílio até ao seu presente exilado.

A poesia nasceu dos primeiros assombros perante a vida, quando a humanidade nascente se interrogou sobre os primeiros mistérios da existência. Foi assim que o universal se tornou, desde as origens, local.

Nesta viagem comum a todos, entre o ser e o universo, nesta viagem feita de uma multiplicidade de línguas, de lugares e níveis de evolução, a experiência poética da humanidade unifica-se e alcança uma universalidade liberta do domínio da 'metrópole' e da submissão das 'províncias'.

(...)

Que significa o fato de eu dizer que a minha poesia vem dum país no qual a relação entre o tempo e o lugar se rompeu, duma pátria em que as crianças se transformaram em fantasmas?

É só uma maneira de dizer as dificuldades da modernidade árabe em marcha, da tribo cujas tendas se volatilizaram em direção à cidade que ainda não nasceu.

A obscuridade não é o objetivo da poesia. Ela nasce, porém, da tensão entre o movimento do poema e o pensamento que o poema põe em movimento, da tensão entre o seu estado de prosa e o seu estado de ritmo. E essa parte obscura, comparável às evocações das sombras, é uma das formas do combate entre a língua poética e a realidade que a poesia, na busca das sua essência, já não se contenta em descrever. Talvez essa parte obscura seja precisamente o espaço aberto diante do leitor que, liberto duma mensagem definitiva, dotado da capacidade de ler e interpretar, possa então dar ao poema uma segunda vida."


Mahmoud Darwich

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