terça-feira, 11 de agosto de 2009

bibliotecas conjecturadas (2): "inteligência brasileira"


"Trópicos verdes, trópicos marrons, trópicos cinzentos; por vezes convertem-se em planícies desnudas, tornam-se abstratos e simulam as origens dilaceradas do ser. Então, às margens da rodovia retilínea que liga Taubaté a São Paulo, estende-se a General Motors, como uma imensa plantação de automóveis."

"O gesto criador não é jamais histórico, é sempre e tão somente atual."

(Max Bense)


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Ler Max Bense é um ao mesmo tempo cartesiano e catártico momento. Nele nada é acaso e, talvez, nisso esteja sua forma de condensar momentos de relâmpagos na visitação dessa outra margem. Metódica a figura do voo. Sua "Teoria do texto" propõe a leitura residual em relação à linguagem. Em toda realização estética estaria, por isso, a falência do histórico para uma atualização de perceptibilidades. Retirando-se o caráter taxêmico das coisas expressas em palavra, todo artefato semiótico pode clarificar-se em uma identidade (talvez melhor fosse identificação) na qual o próprio nega-se e informa sua materialidade. A paisagem, desse voo, sobre Brasília, é a costumeira plantação de cana, mas, de alguma forma, colhida com o progresso de São Paulo. A atualização da criação engloba portanto uma dualidade importante: deslocamento semântico e condensação estatística. Nesse processo todo elemento purgador da linguagem é constituído por um artesanato metódico do tempo. O conhecimento do fenômeno criativo somente reverbera, nunca é propriamente em seu estado de matéria prévia. Por isso a figura do voo se transmuta. Conduzir-se nesses micro-fragmentos - que lembram muito uma outra conjectura, a Einbahnstraße ["Rua de mão única"], de Walter Benjamin - de Inteligência Brasileira é ver-se na escrita do outro, do estranho, como nosso melancólico tropismo nos simulam, nos indiciam para uma margem do ser, posto ali. Toda a história é transformada em multicor verde, marrom, cinza.

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