sexta-feira, 7 de agosto de 2009

a flor de creeley

A FLOR

Penso que cultivo tensões

como flores
num bosque onde
ninguém vai.

Cada ferida — perfeita —,
fecha-se numa minúscula imperceptível pétala,
causando dor.

Dor é uma flor como aquela,
como esta,
como aquela,
como esta. (Robert Creeley)

...... ...... ......

Restaurar a dor perdida do objeto, sem dúvida aí está um dos instrumentos da linguagem enquanto participante do campo simbólico. Habito, com isso, esse bosque, minha lalangue, para poder, de uma só foz, desse imperceptível. Ainda há o tendão do dizer, e já nós somos sujeitos da enunciação. Sujeitos ao dito, dessa fala frente ao calar (de si para si) do outro. O que existe entre o esta e o aquela? Converte-se de par em par em anedota. O dia em que a raposa continua enterrando sua vovó sob o azevinho. Assim, a fantasia da interpretação: um restauro do sonho, do tempo transmutado. No fantasiar, o poeta se inscreve, puro ritmo, na dor sentida, bem.
Em outro sintoma, o que poderia ser um pensar de tendões? Sem dúvida, o significante permanece aqui tenso, entre um paradoxo e a ambiguidade. Fornece-nos o bosque, atracado. Mas não há laço, apenas a possível invasão do outro. Que objeto é esse, perdido, na falha, deixado para trás? O inescrutável da teoria e mais a marca do desejo, abandonado. Ferir é deixar que o corpo toque-se no real. Lacan: "a linguagem come o real" (Sem. XXIII). E, ao comer, colocam-se os furos todos do sentido, as manchas deixadas pelo sujeito naquela indizível - e, por isso, perfeita - dor de pétala. Não são petas o que os poetas cantam, antes são lãs deixadas, aos nardos do sentido.

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